A Associação dos Comedores Anônimos (ACA) ainda não foi criada. Mas, se existisse, certamente teria um número grande de sócios. A comida pode ser um vício. Não estamos falando aqui de pessoas que comem o tempo todo, mas daquelas que criam uma predileção por determinados alimentos e passam a depender deles para funcionar direito, ou não conseguem controlar a quantidade ingerida. “Isso costuma acontecer com alimentos altamente palatáveis e de alta densidade energética, ricos em açúcar, gordura e farinhas refinadas”, diz a nutricionista Andréia Naves, diretora da VP Consultoria Nutricional (SP). E completa: “Eles geram um consumo compulsivo e incontrolável e, consequentemente, uma sensibilização do organismo à substância, com sintomas típicos quando é suprimido, como ansiedade, agressividade e alterações de humor”.
Só que, diferentemente das drogas, os alimentos são necessários à vida. Comer é um comportamento que envolve vários processos hormonais. Por isso, fica tão difícil comprovar que a vontade excessiva de ingerir algo seja um vício. Mas a cada dia novas pesquisas comprovam que certos alimentos podem, sim, alterar o funcionamento cerebral, como faz a cocaína, por exemplo. Boa parte dos experimentos foi feita com ratos, uma vez que é um risco grande desenvolver propositadamente o vício em uma pessoa.
Chocolate

Café

Pães, massas e biscoitos feitos com farinha refinada — aquela branca — são capazes de mudar a química cerebral, aumentando os níveis de serotonina, o neurotransmissor que dá a sensação de bem-estar.
Açúcar

Gordura 

O consumo por um tempo prolongado modifica o sistema de recompensa do cérebro e estimula a compulsão. No experimento realizado pelo Scripps Research Institute, quanto mais os ratos consumiam alimentos gordurosos, mais eles preferiam alimentos de pior qualidade nutricional.
Todo vício, seja ele por drogas ou por alimentos, é multifatorial. Não se pode desprezar o componente comportamental ligado ao fisiológico”, diz a nutricionista Andréia Naves. Um estudo publicado em novembro de 2010 pelo jornal da Academia Nacional de Ciências dos EUA demonstrou que atitudes prazerosas realmente ajudam a reduzir o estresse. Mais uma vez o objeto do estudo foram os ratos. Os cientistas ofereciam aos animais uma mistura de água com açúcar, que eles gostavam bastante. Nessas circunstâncias, seu cérebro demonstrava uma resposta baixa ao estresse. Em outra parte do experimento, a substância era injetada diretamente no estômago dos ratos, e a resposta ao estresse desaparecia. Ou seja, o açúcar em si nem sempre funciona para reduzir o estresse. Já o prazer que ele traz é altamente eficiente.
Lutar contra um vício nunca é fácil, seja pela dependência química, seja pelo prazer que ele traz. Ainda mais se é uma droga legal, ao alcance de qualquer um na prateleira do supermercado. Mas o preço a ser pago por se deixar levar pela sedução dos sabores é alto e nem sempre merecedor do seu sacrifício.
Escape do círculo vicioso
• Aprenda a identificar os alimentos que causam compulsão no seu caso. Há os mais comuns (café, chocolate e gordura), mas outros podem ser acrescentados à lista como o sal e o refrigerante. E preste atenção no tanto que está ingerindo, tentando diminuir um pouquinho por dia.
• Observe a situação. Sempre que sentir um desejo demasiado por determinado alimento, preste atenção em como você está se sentindo: aborrecido, deprimido, ansioso. Nesses momentos é comum sentir vontade de alimentos que trazem recordações boas, como da infância. Busque uma solução para sua situação mental que não seja o alimento.
• Distraia-se. Quando sentir uma vontade louca por um alimento, tente fazer alguma atividade que mude o seu foco.
• Evite a fome oculta: “Garanta que está consumindo a quantidade certa das vitaminas e minerais importantes para a mediação dos neurotransmissores”, diz a nutricionista Andréia Naves, e enumera: complexo B (cereais integrais), vitamina C (laranja), triptofano e tirosina (banana), magnésio (folhas verdes-escuro) e selênio (castanha do Brasil).
Nenhum comentário:
Postar um comentário